A escrita didática da História na década de 1980: um ponto de reflexão para as intensas disputas públicas pelos sentidos da História ensinada no Brasil contemporâneo
Filho dileto da modernidade europeia do século XIX, o ensino escolar de História veio se debatendo, ao menos nos últimos cem anos, com as promessas não cumpridas pelos discursos iluministas, buscando a inclusão, no campo das representações, de outras vozes e histórias dissonantes. O presente texto apresenta os desdobramentos de pesquisa de maior porte sobre os livros didáticos de história brasileiros e sua relação com o discurso identitário nacional, tomando a década de 1980 como ponto fundamental de inflexão (sem desconsiderar iniciativas anteriores importantes).[i] Como exemplo, o livro Brasil Vivo, volume 1, é analisado em suas relações sincrônicas e diacrônicas com as demais produções didáticas da disciplina de História. Procura-se, ao final, partindo das análises realizadas, refletir sobre a intensa disputa pública pelos sentidos da História ensinada no Brasil contemporâneo.
Palavras-chave: ensino de História; livros didáticos; identidade nacional.
[i] Uma parte modificada deste texto foi publicada nos anais do XV Encontro Regional de História (2016) com o título “Senhores e escravos. Ricos e pobres. Mandões e mandados. Brasil Vivo: um marco na produção didática de História da década de 1980”.
Referências
ALENCAR, Chico; RIBEIRO, Marcus V.; CECCOM, Claudius. Brasil Vivo: uma nova história da nossa gente. vol. 1. Petrópolis: Vozes, 1986.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
CARRETERO, Mario; ROSA, Alberto; GONZÁLEZ, María Fernanda (Org.) Ensino da História e memória coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2007.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. 51.ed. São Paulo: Global, 2007.
_______. Por textos e contextos: identidade e aprendizagem histórica In: _______. Entre textos e contextos: caminhos do ensino de História. Curitiba: CRV, 2016. v.1, p.449-470.
_____. Quem somos nós? Apropriações e representações sobre a(s) identidade(s) brasileira(s) em livros didáticos de História (1971-2011). Jundiaí: Paco, 2014.
MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. Tese (Doutorado) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História e Filosofia da Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). São Paulo, 1997.
PEREIRA, Nilton M.; MEINERZ, Carla B.; PACIEVITCH, Caroline. Viver e pensar a docência em História diante das demandas sociais e identitárias do século XXI. História & Ensino, Londrina, v.21, n.2, p.31-53, jul./dez. 2015. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/23850/17616.
ROSA, Alberto; BELLELLI, Guglielmo; BAKHURST, David. Representaciones del pasado, cultura personal e identidad nacional. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.34, n.1, p.167-195, jan./abr. 2008. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ep/article/view/28083/29890.
RÜSEN, Jörn. Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W. A. Editores, 2012.
_______. Humanismo e didática da História. Curitiba: W. A. Ed., 2015.
_______. Razão Histórica. Teoria da história I: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Ed. UnB, 2001.
_______.; SCHMIDT, Maria A.; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de R. (Org.) Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: Ed. UFPR, 2011.
WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.) Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 9.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
Artigo recebido em 13 de janeiro de 2017. Aprovado em 20 de fevereiro de 2017.